quinta-feira, 28 de maio de 2015

Jornal Local: símbolo

Jornal Local estava lá para registar e registou. Quando, no Cais do Sodré, com os bofes de fora, o corredor amador acaba a corrida, a primeira coisa que vê é o mapa do mundo tatuado no tornozelo da menina. Alto, em cima do banco, à beirinha do Tejo; tão grande quanto o Cristo-Rei na margem de lá. Sopro, suor, símbolo. Este é o meu corpo?

terça-feira, 26 de maio de 2015

telex O Que Eu #4

                                                           

Dia 14 de junho, na Feira do Livro, Quem vem ao mundo! Sim, este Quem aqui de cima, desenhado pela Sara a carvão e mão.
E aparece logo com dois livros: Quem conhece a alegria e Quem espera. Ilustrações de Sara Amado, texto de Jacinto Lucas Pires. Edição: Paulinas Editora.
O lançamento é às 16h, e terá a participação da Catarina Requeijo e do Miguel Fragata, velhos amigos e atores sempre-novos. 



Já está nas livrarias o nº5 da revista Granta, que traz um texto meu, O nome das árvores. Uma não-ficção sobre falhar nomes.
Começa assim: "'Onde é que já se viu um escritor que não sabe o nome das árvores?', perguntou-me o meu pai um dia, na Cornualha, com um sorriso.”




E Os Quais estão a gravar um disco, sob a batuta do grande Ricardo Dias Gomes.
Depois da felicidade que foi o concerto no MusicBox com os Do Amor, farão mais uns concertos por Lisboa juntando canções velhinhas e novíssimas.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

(Afinal não era quase impossível — foi quase possível!...)

PARA INSPIRAR O JONAS A MARCAR QUATRO GOLOS


Grande Jonas
Faltam quatro
Flores redondas
Lá dentro

Quase impossível
Mas és capaz
Arte de nível
Imenso

És uma referência para nós
Ser o Brasil da Europa, oh sim
Uma felicidade eficaz

Um país, Catedral da Luz
És a prova de que dá, oh sim,
para ser poeta e bom rapaz

Alegre e rigoroso
Generoso e super-certeiro

Sim, o Jackson
Também é
Alto craque
Mas

A desilusão
Vai tramá-lo
São quatro golos
— Pás!

(Futebol não é para violências, é para a alegria)




(Dá para ouvir aqui)

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Camané is in the house!

Nunca mais será igual o silêncio americano.

A parábola de Castro

Esta semana
o Raúl Castro
disse que, não
tarda nada,

torna à Igreja
— sim, sim, exato —
que conversão
inesperada

Se o comunismo se ajoelha
aos pés da cruz, de alma vermelha…

Tamanha fé
do mesmo lado?
Agora é que é,
mundo mudado?

Vai-se a treva
foice de luz
quem é que os trava
Marx e Jesus?

É poesia concreta
e Pasolini é o profeta!

'Puro acontecimento'
— quem for capaz que o condene —
São Paulo dizendo
na ONU, na CNN
que é para todos a glória
que a graça vence a história

Esta semana
Cuba e o Papa
deram as mãos
— sim, sim

Caro Obama
Cara Europa
contra os nãos
— sim, sim




(dá para ouvir aqui)

terça-feira, 12 de maio de 2015

Libretto em Guimarães

Libretto, um espetáculo meu e da Alma Palacios, vai ao Centro Cultural Vila Flor em Guimarães no próximo sábado, dia 16. (Co-produção: Maria Matos Teatro Municipal, Centro Cultural Vila Flor, Ninguém.)

                                       ©Bruno Simão

Um excerto do que Matilde Campilho escreveu sobre Libretto:

"(...) A dança como tradução da notícia, a dança como tradução da descrição de todos os lugares. Num momento ou noutro, todos nos tornamos personagens, é isso que nos explicam A. e J. – ele usa a palavra, ela usa o silêncio. Ele vai descobrindo o nome dela, ela vai descobrindo o novo nome dela. Os dois habitam precisamente o mesmo lugar, os dois são unidos pelo eixo cada vez mais visível da cidade. Quanto mais eles se aproximam, mais a cidade se deixa ver. Nos dois vai crescendo a alegria e uma certa preparação para a tragédia: ao mesmo tempo que passeiam pelo espaço real do sol da cidade, eles vão aprendendo como se maneja uma arma. (...)" (A transformação do nome pelo nome, Matilde Campilho)

Um excerto do que Paulo Pires do Vale escreveu sobre Libretto:

"(...) Quando a tragédia deixou de ser parte do culto, um ritual, e se transformou em espetáculo, em obra de arte, quando passou a ser vista e pensada sob o ponto de vista do espetador e não do autor e do ator, perdeu o poder vivificante, passou a ser parte da cultura em vez de parte da vida – foi a crítica de Nietzsche à interpretação da tragédia feita por Aristóteles. Nesta peça, em que o espetador habita o palco e faz parte do ensaio, e em que ensaia também; em que o ator não quer ser um repetidor formal, mas um corpo autêntico; em que o autor se percebe como possuído e aprende a morrer e a nascer – estamos mais próximos desse teatro ritual. Estamos todos em cena. Participamos daquilo que habitualmente não nos é dado a ver. Os bastidores. Os ensaios. O que fica escondido. E percebemos que alguma coisa quer dar-se a ver, irromper, desequilibrar a ordem. Alguma coisa quer cantar, alguma coisa quer dançar – e não é o autor, nem mesmo o ator. Alguma coisa quer nascer. Sem libretto:" (O lugar onde Deus o escritor foi roubado, Paulo Pires do Vale)

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Para que serve a ficção

"A man might die because he hadn't experienced anything, and had been just one person all his life."Right and Left, Joseph Roth

sexta-feira, 8 de maio de 2015

We do love you

Bem sei que os ingleses parecem às vezes
longínquos, esquisitos, ilhéus
mais primos do que irmãos europeus
Mas temos a aprender
com o que se está a passar (e não é pouco)
debaixo do grande chapéu de coco

Enquanto escrevo esta canção
ainda não sei quem ganhou ou perdeu
mas sei que o resultado das eleições por lá também é europeu
Sempre haverá o tal referendo?
Regressará o nacionalismo?
Fugirá a ilha para longe de nós e de si mesma?
 

Os Beatles, Shakespeare, o futebol, os Monty Python, os ensaios de Chesterton, Beckett, a Alice e o Peter Pan,
tanto passado passado da cabeça, tanta promessa de mais amanhã
Oh não vão embora, fiquem connosco, não sejam mimados, amuados, meninos da mamã
Really, it's true! We do love you
!



(dá para ouvir aqui)

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Trânsito lento

(Trânsito lento:)

"No final da A-1 para a Ponte da Arrábida, há fila a partir do nó de Canidelo... No final da A-1..."
"Na A-5, na saída para a CRIL (na zona de Miraflores)... Na A-2 para a Ponte 25 de Abril..."

Num dia só, morreram setecentas pessoas no Mar Mediterrâneo
tentando chegar à Europa

"Na IC-19, entre Alfragide e o nó de Pina Manique... Na A-2 a partir da segunda ponte do Feijó..."
"Na A-3, no sentido Valença-Porto, na saída para a Circunvalação… Na Via Panorâmica para o Campo Alegre..."

Em Baltimore, nos Estados Unidos, ruas a arder
por causa do apartheid social em que vivem muitos negros

Como acordar da rotina do dia-a-dia-adia para forçar a mudança?
O trânsito lento do mundo já cansa





(dá para ouvir aqui)