quarta-feira, 21 de março de 2012

Tonino Guerra

Ouço na rádio que Tonino Guerra morreu hoje, no dia da poesia, no dia das florestas. Há mil anos, quando havia um jornal chamado A Capital, escrevi isto sobre o mestre italiano: 

'...Ele é, para dizer a verdade, um caso à parte, mais um escritor de filmes do que propriamente um “argumentista”. Um poeta guardador de histórias que, quase por acaso, entrou no cinema e aí fez casa. Um fazedor de imagens de um tempo anterior ao da “era das imagens” que soube trazer silêncios e segredos para as narrativas do grande ecrã. E, nem é preciso dizê-lo, um importante autor por direito próprio.
O que não quer dizer que imponha a sua assinatura nos filmes em que colabora. Pelo contrário: se há algo que define a escrita para cinema de Tonino Guerra – ele que escreveu, sozinho ou em colaboração, obras-primas tão diferentes quanto “A Aventura” e “Blow Up” (de Antonioni) ou “Amarcord” (de Fellini) – é a enigmática transparência das suas construções e a forma generosa e sábia como ela se aproxima de universos tão distintos. A mestria de Tonino Guerra está aí e também naquilo que, na entrevista dada a Jorge Leitão Ramos para o Expresso, ele chama, modestamente (provocatoriamente?), “intervalos poéticos”.
A sua lição de “menos histórias prepotentes” deve ser escutada com toda a atenção, isto é, de olhos bem abertos. Como será possível, de novo, um cinema assim “moderno”, de espaços e entrelinhas e com o homem no centro?'

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