sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Como é que eles conseguiram meter um castelo rococó na sala estúdio do Trindade?

Na salinha de cima Lígia Roque e companhia brincam à verdade com simplicidade e humor. Teatro: de muito pouco fazer muito muito. Bravo!


terça-feira, 27 de setembro de 2011

Reportagem 3



"O espírito capaz de compreender boa ficção não é necessariamente o espírito culto, mas é sempre aquele que se dispõe a aprofundar o seu sentido de mistério através do contacto com a realidade, e o seu sentido de realidade através do contacto com o mistério." (Flannery O'Connor)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Hoje o que eu quero dizer é isto (letra de uma canção dos Quais)

O PAÍS DO EU


Bem-vindos ao país
Era Uma Vez
vamos para a frente
sempre com um pé atrás
da tempestade
há de vir a esperança
e o tal destino
sabotá-lo com ação

pôr Pasolini na canção
eu amo o mundo
e odeio o mundo
duplo também quem eu


George Harrison cantando
I Me Mine
e eu penso
naquela frase da Simone Weil
o diabo
incita a dizer
o eu de sentido coletivo
dos ditadores

escuta, olha, mas não pares
tão bela contra
atira-te contra a montra
parte tudo tu

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O verdadeiro ator em Silves

Hoje vou a Silves e dou boleia ao ator Américo Abril. O grande acontecimento está marcado para as 21.30h, na Biblioteca Municipal.


terça-feira, 20 de setembro de 2011

sábado, 17 de setembro de 2011

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Como se pudesse haver Europa sem Grécia!

Isto anda tudo doido, muita vaidade a brincar com o fogo. Esperemos só, como dizia o outro, que o céu não nos caia na cabeça...

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Nova Iorque 4

Numa das passagens de alfândega, em Heathrow, fui chamado à parte. Uma mulher-polícia pediu-me para abrir a mochila. Era uma senhora rechonchuda, de bochechas rosadas e redondos olhos azuis, que parecia uma personagem de um romance de Barbara Pym a quem tivessem impingido uma farda e um chapéu. 
Enfiou a mão no caos de roupa suja que era o conteúdo da mochila e descobriu o coração. Séria, levantou o olhar para mim à espera de um esclarecimento. Como é óbvio, aquilo era muito suspeito.  
Pensei em contar-lhe a história da escola de cinema, dos exercícios sobre a relação entre imagem e música, da descoberta daquele adereço no vigésimo andar de um arranha-céus no centro de Manhattan, mas pareceu-me complicado demais. Em vez disso, o que me saiu, numa voz sumida, entre soluços, foi: “Please, don’t break my heart...”
Uma pausa longa, um silêncio doido, um vazio que ia dali até à Rua 3 Este em Nova Iorque e voltava; e eu de braços caídos, mordendo o lábio, à espera que a senhora rasgasse a borracha exterior, estraçalhasse a esponja interior e me humilhasse em público — um falso coração exposto para a risota de todo o aeroporto. 
Mas, encarando-me com uma leve, levíssima, ironia azulada, a mulher-polícia largou o coração na roupa suja e fez um gesto para que eu avançasse. “Pode seguir”, disse.
E eu obedeci.

sábado, 10 de setembro de 2011

Nova Iorque 3

Telefonar para Portugal do cimo do Empire State Building.
Sair da sala de montagem da escola de cinema e apanhar o choque da manhã; uma felicidade zonza de cansaço, um quase-desmaio de excesso de luz.
Uma canção começada num dó esquisito, rígido, robótico, que a certa altura se abre para um ré, fá, um mi-menor doce e quente, humano, próximo.
Telefonar para Portugal do cimo do Empire State Building.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Nova Iorque 2

Em 2001, soube do ataque às Torres do World Trade Center pelo telefone. Uma voz amiga descrevia-me as imagens que passavam na televisão e eu fazia perguntas simples, “objetivas”, como que para me defender da notícia, para me acalmar.
Horas mais tarde, estava nos ensaios do que viria a ser a peça Escrever, falar. Éramos dois de pé e dois sentados, na sala branca de uma terra longe. Nos intervalos falávamos do fim do mundo e do teatro diferente que queríamos inventar. Ríamos, fazíamo-nos de fortes, atirávamos disparates uns aos outros. Mas, sobre nós, na sala atravessada pela luz do dia, havia um silêncio novo.
Voltámos a ver as imagens à noite; passavam uma e outra vez e nunca envelheciam.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Nova Iorque 1

Em 1996 eu estava em Nova Iorque a fazer um cursinho de cinema e precisava de um coração para um exercício sobre a relação entre música e imagem. Uma cena de dois, três minutos; a breve história de um homem que, com o frigorífico e os bolsos vazios, acabava por ter de jantar o próprio coração. A música apareceria nesse clímax, quando o homem pegava nos talheres e se lançava a comer, com a contenção possível, o seu “músculo da alma” — uns violinos leves, alegres, que pareciam dizer, com vozes de hiena, “isto é normal, isto é normal, isto é perfeitamente normal”.
Andei o dia todo pelos talhos à procura de um coração que fizesse o serviço, mas eram todos pequenos demais, moles demais, magros demais, corações de coelho, corações de galinha. Os corações de boi estavam esgotados. Desconfio que, mesmo se tivesse conseguido, através de algum tráfico mórbido, um coração humano, não teria ficado satisfeito. Aquilo estava ali à minha frente, era “coisa concreta”, era um “facto”, e no entanto parecia-me sempre falso, triste, morto. Estava tramado, tinha de filmar no dia seguinte e faltava-me o essencial. Passaria a noite em claro, a tentar escavar uma qualquer ideia rápida, “Nova Iorque, fora de horas”...
Até que, no fim do dia, numa loja de adereços descoberta por um colega, lá acabei por arranjar um coração a sério. Um coração realista: de borracha por fora e esponja por dentro.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Agrafador

Em 2006, Christoph Niemann fez esta bela capa para a New Yorker. Qual seria a tradução europeia disto? Um batalhão de Merkels assobiando para o alto enquanto agrafa a bandeira da União?

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

"Toda a gente sabe"


Está por toda a parte a conversa mole do "toda a gente sabe", "as coisas são mesmo assim", "isto não há volta a dar-lhe". É um conformismo vazio, pornográfico, que não ajuda nada, não leva a lado nenhum. Agora a sério, não concordam? E se regressássemos ao futuro?