domingo, 31 de julho de 2011

Vem aí o novo Chico, queremos desforra!

Tenho no currículo as honras trocadas de ter cantado para o Eusébio e ter jogado futebol com o Chico Buarque. 
Foi há dois ou três anos, mais?, essa jogatana, uma coisa organizada pela produção do documentário Meu Caro Amigo Chico, da Joana Barra Vaz. E, apesar das indicações poetico-táticas do Sérgio Godinho, levámos um-zero e um banho literal. Agora que há a desculpa de um novo disco do supercraque, que tal marcar uma bela desforra para um dia de sol?

sábado, 30 de julho de 2011

Vida boa


Há quem diga que os filmes de caubóis estão em risco de extinção porque o relativismo moral dos nossos tempos é um habitat adverso para aquelas histórias de heróis e vilões. Pode ser, mas talvez a coisa deva ser posta ao contrário. Se é assim o mundo, não terá de ser assado o contramundo da ficção?
A propósito, vale a pena ver ou rever Stagecoach, o primeiro Ford em que John Wayne é protagonista. Um filme que fala de amor e morte com uma clareza perdida, uma história onde moral e ética aparecem como países distintos; cinema vivo, onde o mais importante passa antes ou depois das palavras. Quero tudo menos fazer uma crítica do filme, mas deixem-me enumerar três momentos eternos. 
Primeiro, a cena em que a mulher da má vida (Claire Trevor) se apaixona pelo fora-da-lei justiceiro (John Wayne). O que temos é o ponto de vista dela dentro da carruagem: o chapéu do caubói é um círculo branco. Ele estava de cabeça baixa, mas agora levanta o olhar para ela; tudo dura só um instante, logo o homem volta a baixar a cabeça. O chapéu branco de novo — o mesmo plano e, entanto, tão diferente agora: em cima do corpo do caubói, em vez da cabeça, um disco de luz, uma ideia, uma aura.
O reverso desse plano surge pouco depois, quando a carruagem que dá nome ao filme é atacada pelos índios. Contra o deserto resplandecente, no meio do nada, a carruagem negra puxada por cavalos negros, vista de cima, como uma coisa que corre sem sair do sítio — que imagem mais justa para a morte?
E, no final, os dois palavrões, amor e morte, morte e amor. John Wayne está na povoação, na rua principal, num anunciado duelo contra três cobardes, para vingar o pai e o irmão. Dispara e atira-se para o chão. Corte: Claire Trevor, deixada à espera, grita.  Wayne deixara-a junto a casa, na zona da má vida, perto de uma barra de atar cavalos. De susto ou premonição, o grito da mulher?
Belo susto, afinal. Afinal a barra não é para cavalos, lembra antes uma barra de balé, e afinal a mulher não é da má vida, lembra mais uma princesa de conto de fadas. Wayne está vivo, claro, e leva-a numa carruagem nova, descapotável, para um final feliz num rancho algures. Dito assim, já sei, parece burguês e triste e excessivo para os nossos tempos estreititos. Mas vejam, vejam, só vendo: que gestos, que olhares, que silêncios, que tiro.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Um pouco mais de loucura

Não acho que o devam proibir de beijar o símbolo como o outro. Até porque as crises de fé se resolvem, por vezes, com grandes gestos teatrais e só se chega ao perdão dos pecados com amor, muito amor. Agora, continuar a dar-lhe a braçadeira de capitão é que já me parece um poucochinho demais, não? Mas, peço desculpa, nem era de Luisão que eu queria falar.
Ontem ganhámos aos turcos impronunciáveis com duas belas obras de arte, foi bom. Viva Nolito! Palmas, Gaitán. E, no entanto, ainda falta alguma coisa.
Conta-se que um dia o Abade de Priscos deu a provar ao Rei o seu famoso pudim. O Rei gostou muito e perguntou-lhe quais eram os ingredientes. O Abade respondeu que tinha ovos, toucinho, açúcar, etc, e palha. "Palha?" espantou-se o Rei. "Com todo o respeito, Sua Majestade", terá dito o Abade, "todo o burro come palha, o segredo é sabê-la dar."
Com o Benfica, passa-se algo do género (e não, não estou a chamar burro a ninguém). Temos grandes artistas, já se vê, temos os ingredientes todos, os ovos, o açúcar, o toucinho até, mas falta ainda o resto. O segredo que faz o génio. O toque da diferença. Do meu modesto lugar de teórico de bancada, creio ter achado uma solução realista: El Loco Abreu.
Vamos buscá-lo ao Botafogo, por favor. Com ele no plantel, no balneário, no banco, teríamos aquele não-sei-quê de carisma que ainda falta ao nosso Glorioso deste ano. Contra as malapatas de Coentrões e Luisões, a melhor loucura. Vá lá, por favor.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

terça-feira, 26 de julho de 2011

Feito à mão

Não, eu adoro o campo. Muitas vezes imagino sombras de árvores feitas à mão pela alma de Lourdes Castro; caruma a preto e branco para pisar com plantas dos pés pintadas como as de Helena Almeida. E quantas vezes não desejo uma mata onde plantar aquelas bolas de aço e outros versos duros de Rui Chafes. O céu de um tamanho imensamente azul que só podemos ter longe da cidade e na pintura de António Palolo. E espaço, buracos na paisagem, clareiras-palcos, para cantar, dançar, dizer: para nos mascararmos de santos modernistas, olharapos futuristas ou de Albuquerque Mendes. Não, eu adoro o campo.



segunda-feira, 25 de julho de 2011

Reportagem


"A forma procura um artifício; a história procura um precipício." (Roberto Bolaño)

domingo, 24 de julho de 2011

Somos todos noruegueses

Nos momentos de tragédia, como que se calam as palavras. Perante o horror, dizer o quê? E, no entanto, não podemos deixar o vazio tomar conta. Mesmo curtas, as palavras são o nosso escudo e a nossa arma.



Há uns anos, numa iniciativa de Jorge Silva Melo e do Det Åpne Teater de Franzisca Aarflot, fui a Oslo assistir à leitura  encenada de Octávio no mundo, uma peça breve que escrevi para atores de 15-16 anos no âmbito do PANOS da Culturgest. Começava assim:



1
Só um palco com uma cadeira de madeira. OCTÁVIO, um rapaz de ténis vermelhos, e INOCÊNCIO, um rapaz de óculos, estão parados a meio do lugar. Durante um tempo não dizem nada.

INOCÊNCIO        É isto. (Pausa. Octávio olha à volta.)
OCTÁVIO        Sim. (Pausa. Olha outra vez.) Não tem assim muita coisa.
INOCÊNCIO        Não.
OCTÁVIO        Há aquela cadeira.
INOCÊNCIO        Talvez esperasses um sítio diferente.
OCTÁVIO        E há bastante espaço, isso é bom.
INOCÊNCIO    Talvez estivesses à espera de um lugar mais preenchido, se é essa a palavra, mais agitado. Com luzes a acender e a apagar e botões onde se pudesse carregar para fazer acontecer alguma coisa.
OCTÁVIO    Imaginei-o de outra forma, só isso.
INOCÊNCIO    Talvez paisagens de puxar que nos mudassem de país em segundos. Agora a selva, agora a neve, agora uma cidade.
OCTÁVIO    Imaginei mais mobília, acho.
INOCÊNCIO    Agora a paisagem surrealista, hiper-realista, clarinetista, da nossa cabeça. (Pausa. Os dois olham à volta.)
OCTÁVIO    Sim, não está nada mal. “Clarinetista?”

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Os velhos

Merkel e Sarkozy deviam ouvir aquele pedaço de rock português que diz "queimar tempo não cai bem, queimar tempo não cai nada"... Já é claro para todos que a questão é política. Não queremos mais números, precisamos de palavras, gestos, futuro.

terça-feira, 19 de julho de 2011

O cinema dos olhos fechados

Pina Bausch sabe todas as perguntas e ensina maravilhosamente: na dança de olhos fechados, a importância de, atrás das pálpebras, olhar para baixo, para dentro, para baixo. 



sexta-feira, 15 de julho de 2011

No banco de trás


Obrigações europeias, ministro das finanças da UE, governo económico, união fiscal... Há muitas ideias, mas faltam gestos. Há um défice de política a sério; uma visão de futuro, palavras concretas, uma esperança que transforme. Não, assim não pode ser. Assim a Europa está condenada ao banco de trás do mundo. Poderá até ser confortável para alguns, mas é tão triste para todos.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O mel do melhor

Como naqueles versos de Waly Salomão, em 1974:


Por aqui tem feito D dias lindos
Procurar um outro AR
                  ALTERAR

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Coimbra é uma canção

Amanhã, às 18.30h, estarei em Coimbra, no Teatro da Cerca de São Bernardo, a ler O verdadeiro ator com os verdadeiros atores da Escola da Noite. Apareçam! Lançaremos palavras-coisas contra as coisas-palavras!


domingo, 10 de julho de 2011

É Do Amor!


Dar uma banda

DO AMOR | Myspace Music Videos


Os Do Amor arrasaram ontem, noite alta, no Arte e Manha, uma nova ilha musical na mais improvável das avenidas, a Duque de Loulé. Quem não viu, ainda pode correr até Guimarães ou Pontevedra. Vale a pena, é música para as felicidades.